FALSETES -Parte 2 por Mateus Martins

Alfred Deller, um dos mais extraordinários contratenores de música antiga do século XX, era um baixo-barítono e declarava que as vozes graves, por terem menor extensão de agudos, dispunham de maior extensão de falsete.
Mas, independente da voz de peito do cantor, a prática do falsete é não somente enriquecedora para o timbre da voz em toda sua extensão como um excelente aprendizado para seu uso econômico, já que deve ser abordada com exercícios de ligeireza e flexibilidade, sem sustentação, antes de tentar sons sustentados ou notas longas.
Por ser um registro em que qualquer apoio indevido, qualquer tensão ou esforço mal feito aparece inconfundível e imediatamente, o trabalho em falsete pode constituir o melhor dos exercícios se bem usado.
Além do mais, a prática de escalas descendentes sem suporte do falsete para a voz de peito, é maravilhosa para manter o brilho nas regiões mais graves da voz e também para se conseguir uma mistura de falsete com agudo, muito útil tanto para o cantor popular quanto lírico.
Como qualquer outro registro, o mau uso do falsete é sem dúvida nocivo. Quanto à comparação do falsete com a voz feminina:
Sem entrar na descrição científica, existe um registro nas vozes femininas, chamado registro de flauta, que se assemelha em muitos aspectos ao falsete. Fica situado acima de um dó ou dó sustenido sobreagudo, e deve ser trabalhado da mesma maneira: leveza, flexibilidade, rapidez, agilidade.
Escalas, ou até glissandos, arpejos, grupetos, muito soltos, sem suporte, ou com pouco suporte, começando na região média (de preferência com trinados, quando a aluna consegue facilmente), tudo feito junto com movimentação corporal para soltura - balançar joelhos e braços, pulsos, cabeça, etc. - tudo isso facilita o aparecimento do registro de flauta, assim como seu desenvolvimento. Exercícios de "staccatto" também, com muito cuidado.
Mas não se deve esquecer que nem todas as vozes possuem este registro: nunca se deve insistir quando não aparece espontaneamente em função dos exercícios específicos. A aluna não deve praticar isso sozinha antes de ter identificado bem - é indispensável um professor com muita experiência desse tipo de trabalho e um excelente par de ouvidos.
Mas quando bem sucedida, a prática do registro de flauta traz um brilho, uma leveza, uma precisão e uma clareza extras a toda a extensão da voz.
MATEUS REZENDE MARTINS
Teólogo,músico,cantor,professor de canto
brianmateus_7@hotmail.com